O POVO MACUA - DADOS HISTÓRICOS

Continua a ler

ATIVIDADES ECONÓMICAS

Continua a ler

SOCIEDADE E INDIVÍDUO

Continua a ler

ESTRUTURA SOCIAL

Continua a ler

A VIDA E A VISÃO DE MUNDO

Continua a ler

RITOS DE PASSAGEM – O NASCIMENTO

Continua a ler

RITOS DE PASSAGEM - OS RITOS DE INICIAÇÃO DOS JOVENS

Continua a ler

RITOS DE PASSAGEM - OS RITOS DE INICIAÇÃO DAS JOVENS

Continua a ler

OS RITOS DE PASSAGEM – Casamento, Relações sexuais, Divórcio

Continua a ler

A DOENÇA E OS RITOS DE CURA

Continua a ler

O povo Macua

por Timi GASPARI, antropóloga

O povo Macua, composto por pelo menos 4 milhões de pessoas, é o maior grupo étnico em Moçambique (se pense, somente por curiosidade, que o atual presidente, Nyussi, é um Macua) e está presente principalmente no norte do país onde, principalmente em Cabo Delgado e Niassa, convivem com os Maconde, os Nyangia e os Yao.

DSC_1882Não é um grupo étnico totalmente homogêneo e é possível reconhecer os vários subgrupos. Em Palma, por exemplo, existem os Macuas do litoral, conhecidos como Macua Enahara. Apesar da ampla distribuição geográfica e dos diferentes dialetos pode-se dizer que existe uma unidade fundamental entre os Macuas: A cosmogonia, isto é, o conjunto de mitos que explica a origem do mundo. Em todos os subgrupos do povo Macua encontra-se o mesmo mito fundador: O mito do Monte Namuli, uma montanha da província da Zambézia.

O Namuli, de acordo com o mito, seria o centro e o lugar originário primordial dos Macua.
De acordo com uma versão deste mito, os Macuas teriam sido criados por Deus nas cavernas do Monte Namuli, e na montanha teriam procriado, até quando não lhes fora dito para explorar novas terras; um dia eles se encontraram no rio Malema, construíram uma ponte de cordas e começaram a atravessá-la, mas a ponte se rompeu quando apenas metade do grupo tinha atravessado o rio. O grupo que ficou para trás, acreditando que a ponte tinha caído por outras razões, mais profundas, teve medo de reconstruí-la. Os dois grupos foram então separados e aqueles que tinham atravessado continuaram o seu caminho. Esta condição ligada ao fato de atravessar o rio, no entanto, acabou por repetir-se várias vezes, e foi a partir dessas separações que surgiram os diferentes grupos Macua.
Este mito muda de região para região, mas o ponto comum é sempre o mesmo, ou seja, ser originário do Monte Namuli. A expressão “Eu venho de Namuli” é usada por todos os Macuas e significa “Não Sou / somos pessoas quaisquer, sabemos de onde viemos, nós conhecemos a nossa origem e sabemos para onde vamos, temos um propósito em nossas vidas.” Trata-se de um mito recorrente contado nas iniciações, nos rituais de cura, funerais e em muitos de seus provérbios.

Nas zonas costeiras os Macuas são predominantemente muçulmanos; nas regiões do interior existe uma taxa quase igual entre cristãos e muçulmanos. Mas todos, independentemente de credo que seguem, continuam a praticar a sua religião tradicional, que se junta às outras duas. Portanto, aqueles que creem em Deus ou Allah creem também nos antepassados. Há convivência e sincretismo harmonioso entre as religiões.

DADOS HISTÓRICOS

DSC_1882As regiões hoje habitadas pelos Macuas eram anteriormente habitadas pelos povos Khoi e San, que tinham desenvolvido uma escrita hieroglífica elementar e praticavam a agricultura típica do período Neolítico.
Os Macuas foram os primeiros grupos Banto meridionais que migraram para o sul do continente a partir da região Central Africana dos Grandes Lagos (Lago Victoria e arredores). Acredita-se que essas migrações tiveram lugar nos cinco primeiros séculos depois de Cristo, e é nesse espaço de tempo que provavelmente os Macuas se estabeleceram no norte de Moçambique.

Na época, os Macuas se dedicavam principalmente à caça, coleta de frutos silvestres e agricultura arcaica. Textos de um autor grego do primeiro século D.C e de Claudio Tolomeu testemunham que, já na época, os viajantes do Sudeste Asiático mantinham contatos comerciais com os habitantes da região. É importante saber que a ideia de que a África Subsaariana ficou isolada até 1400 é uma grande mistificação: Durante séculos existiram contatos contínuos com índios, chineses, árabes e malgaxes; existem testemunhos como por exemplo minorias chinesas de décima geração, e muitas pessoas ligeiramente mais claras do que as outras que são descendentes de uniões com índios, árabes e chineses.

Nos séculos IV a VIII os Macuas, de nômades se tornaram sedentários, eles viviam sem autoridade política territorial centralizada, mas organizados em pequenos grupos e clãs relativamente autossuficientes com base na agricultura familiar, caça e coleta de frutos silvestres (e até hoje essa é ainda a estrutura fundamental da economia familiar nas zonas rurais em Moçambique). Também estava presente o fabrico de ferro e produção de óleos e cestas

Entre os séculos XI e XII demais migrações Banto contribuíram para o aumento da densidade populacional, a intensificação do comércio e vários grupos começaram a organizar defesas contra as guerras e agressões por parte de outros grupos. Árabes do Golfo Pérsico se estabeleceram ao longo da costa, criando empresas comerciais as quais por um longo tempo controlaram o comércio na região. Foram os árabes os primeiros a introduzir entre os Macuas o comércio em grande escala de novas espécies de plantas e o tráfico de escravos e marfim, o qual continuou durante séculos.
Entre os séculos XV e XVIII se formaram nas áreas costeiras dos estados Afro-Asiáticos (califado) por iniciativa dos árabes, vários outros Estados Macua e, um pouco mais para o interior, as confederações de clãs Macua. Estes nasceram para se defender contra os ataques externos e estabelecer o controle sobre o comércio. Todos esses pequenos estados, por séculos, bloquearam a expansão dos Portugueses no interior do país; até 1890, os Portugueses, de fato, tiveram o controle apenas de algumas partes da costa e muito poucos postos administrativos no interior. Eles tentaram muitas expedições militares subindo os rios, mas a maioria delas tiveram um fim desastroso.
No século XIX, ocorreu a chegada do povo Anguni provenientes da África do Sul, que abrange todo o Moçambique e vai até à Tanzânia devido as grandes migrações desencadeadas pelas conquistas de Shakazulu. Até à data de hoje, pequenos grupos isolados de Anguni existem em Niassa e Cabo Delgado. Além desta fase, aconteceu também uma guerra mais ampla entre Macua e Yao, a qual contribuiu fortemente para a difusão do Islã desde a costa, onde já existia há séculos atrás, até as áreas mais interiores e áreas mais remotas da região.
Depois da Conferência de Berlim em 1884, Portugal intensificou os seus esforços para tomar posse real de territórios onde até então não controlavam quase nada: De 1890 a 1920 houveram muitas campanhas militares, vitoriosas graças, em parte à cooperação obtida a partir de líderes locais que estavam em conflito com outros grupos costeiros e que consideravam de seu interesse aliar-se aos portugueses. No entanto, Portugal não dispunha dos meios necessários para administrar seu próprio território e então, deu-o a sociedades de gestão.  Até 1930 o Niassa e Cabo Delgado foram administrados pela Sociedade Real Britânica de Niassa, que regulamentou a exportação de mão de obra para a África do Sul, Quénia e Zaire, recolhia os impostos com os moradores locais e os obrigava a manter a agricultura puramente familiar. A sociedade era quase um estado independente, com poderes administrativos, legais e comerciais. Durante a Primeira Guerra Mundial ocorreram várias incursões da Alemanha, a partir da Tanzânia (que era a colônia alemã) em Cabo Delgado e depois da guerra muitos colonos alemães migraram da Tanzânia (que foi desapropriada da Alemanha como pagamento pela guerra e atribuída à Inglaterra) em Cabo Delgado, onde construíram fazendas e plantações. Às vezes, ainda encontramos velhos Macuas que falam algumas palavras em alemão (eu, pessoalmente, conheci dois).
A partir de 1930, Portugal assumiu a gestão dessas áreas e terminou a era das sociedades. Tentou introduzir o cultivo forçado de algodão entre os moçambicanos falhando miseravelmente porque os moradores sabotavam a colheita continuamente. O estado colonial garantiu controle sobre a população ao aliar-se com líderes tradicionais reforçando seu poder. É por isso que depois da independência de Moçambique os líderes tradicionais foram todos renegados, eu diria banidos, e somente a menos de dez anos que o Estado concordou novamente em reconhecer formalmente a sua existência, reconhecendo seus deveres e direitos. No entanto, é necessário recordar que os líderes tradicionais são uma reconstrução historicamente recente: A região durante séculos foi caracterizada por pequenos estados autônomos e o colonialismo queria eliminá-los (uma vez que estes eram inimigos fortes e perigosos) minimizando a base através do reforço dos pequenos líderes, que anteriormente tinham menos privilégios e influência.
Durante a guerra de libertação, Cabo Delgado foi, desde o início, teatro de confrontos entre FRELIMO e o governo colonial, mas foi também uma das primeiras regiões libertadas. As bases da FRELIMO encontravam-se no sul da Tanzânia, perto da fronteira com Moçambique, e então, os combatentes libertaram progressivamente o país de norte a sul. Nestas zonas libertadas já se delineavam e aplicavam estes princípios de governo que foram mais tarde adotadas pelo Estado moçambicano, em linha com o socialismo científico marxista-leninista. A independência foi alcançada em 1975. Foi um dos muitos países africanos que conseguiram sua independência com luta e vitória. Demorou 13 anos, e a maioria dos lutadores eram Maconde (de Cabo Delgado); parece que os Macuas tenham sido muito menos significativos em números e, portanto, muitas vezes acusados de ser um povo alinhado ao colonialismo, covardes e bajuladores, esquecendo os séculos de resistência obstinada aos Portugueses, pelo menos até o século XIX.
Em 1979 começou a guerra de desestabilização que a Rodésia branca, e a África do Sul moveram contra Moçambique através da RENAMO, dispostos a não aceitar o fato de ter um estado vizinho governado por negros e, ainda mais, socialistas (a personificação de seus piores pesadelos). A guerra ao longo dos anos tornou-se uma guerra civil que durou até 1992 e causou grande devastação: um milhão de mortos (destes, 45% eram crianças), o país repleto de minas terrestres com o consequente resultado de mortos e mutilados, cerca de 25 mil crianças-soldados, 250.000 órfãos, 300 por mil de mortalidade entre 0 e 5 anos (ou seja, um terço morria), 4,5 milhões de pessoas deslocadas internamente, 1,5 milhões de refugiados no exterior, metade da rede de estradas destruídas, metade das unidades de saúde destruídas. O centro e o norte do país são os que mais sofreram com a guerra, e as lembranças entre as pessoas ainda estão muito vivas; as consequências da guerra se sentirá ainda por dezenas de anos, já que ainda hoje não são capazes de restaurar completamente as infraestruturas voltando-as às condições em que estavam antes da guerra.
A partir do tratado de paz até à data de hoje, passaram pelo poder três presidentes: Chissano, Guebuza e Nyussi.
Chissano é o único que teve a tarefa de efetuar a transição do socialismo para a democracia na sequência dos acordos de paz e para reconstruir o país. Para fazê-lo foi preciso dobrar-se completamente aos poderes do FMI e do Banco Mundial, abrindo Moçambique aos mercados internacionais, sem qualquer tipo de proteção, cortando as verbas para a educação e a saúde, com a   sequência de uma série de políticas agrícolas que têm dado grande rejuvenescimento.  Acredito que não tinham muita escolha: Era uma situação de chantagem por parte da comunidade internacional para ceder às políticas neoliberais e o país estava tão mal, que não vejo o que mais ele poderia fazer. Talvez resistir um pouco mais, negociar mais, isso sim. Guebuza é aquele que queria que Moçambique entrasse nos circuitos do mercado internacional, atraindo mais investidores estrangeiros possível, abrindo caminho para a venda do país.
Ele fez também várias coisas positivas (por exemplo, aumentou drasticamente o número de escolas e centros de saúde), mas vários estudos indicam que os moçambicanos que vivem em áreas rurais (cerca de 85% da população) estão vivendo em uma situação bem pior do que há 10 anos atrás. Todas as operações e os esforços de desenvolvimento têm tido pouco sucesso.

MACUA – Atividades económicas

(CONTINUA... )

macua-3-ilteatrofabene